MP diz que mulher de acusado de matar Marielle planejou descarte das armas

Por Henrique Coelho

Polícia prende mulher e cunhado de ex-PM suspeito de matar Marielle e Anderson

O Ministério Público do Rio de Janeiro afirma que a retirada das armas do apartamento de Ronnie Lessa, policial reformado acusado de matar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, foi comandada por Elaine Lessa, mulher de Ronnie.

Ela e outras três pessoas foram presas no início da manhã desta quinta (3) por envolvimento no descarte do material em alto-mar.

Segundo a polícia, é possível que a arma usa para matar Marielle também tenha sido descartada. As armas teriam sido tiradas de um apartamento onde Lessa montava os fuzis depois que ele foi preso.

De acordo com a denúncia, após a prisão de Ronnie Lessa e do ex-PM Élcio Queiroz, a polícia recebeu denúncias de que em um apartamento de Lessa havia montagem de armas de fogo.

“Quando fomos cumprir o mandado de busca, o apartamento já estava esvaziado. A Elaine foi a mentora dessa ação criminosa para que fizessem a limpeza desse apartamento, sabendo que poderiam encontrar ali elementos importantes para a investigação do crime. A acusação da Elaine foi de ter acionado o próprio irmão para descartar esse material”, afirmou a promotora Leticia Emily.

Além de Elaine, foram presos na manhã desta quinta Márcio Montavano, o Márcio Gordo, Josinaldo Freitas, o Djaca, e Bruno Figueiredo, irmão de Elaine.

Imagens mostram preso carregando caixa de papelão

Imagens de câmeras de segurança do apartamento de Ronnie Lessa mostram Márcio Gordo retirando uma caixa de papelão do imóvel no dia seguinte da prisão do policial reformado. A polícia investiga se as armas estavam na caixa.

Imagens de Márcio Gordo entrando no condomínio foram divulgadas nesta quinta-feira (3) — Foto: Reprodução/ TV Globo

“A defesa nega que havia armas dentro da caixa. As imagens mostram o Márcio carregando uma caixa, são tralhas. Não caberiam ali fuzis”, argumentou o advogado Guilherme Pauperio.

Bruno teria ajudado na execução do plano. Djaca teria pago R$ 400 a um barqueiro para levá-lo até o local onde as armas foram descartadas. Ronnie está preso desde março deste ano, suspeito da execução da vereadora e do motorista Anderson Gomes.

“Tem a possibilidade de a arma do crime ter sido descartada. Um fuzil foi, inclusive, descartado com a bandoleira. Foram seis armas arremessadas ao mar pelo Djaca”, afirmou o delegado Daniel Rosa.

O advogado de Márcio Gordo disse que assim que tiver acesso aos autos vai pedir a revogação da prisão preventiva. “Vai ser uma guerra jurídica interessante”.

Defesa diz estar surpresa com a prisão

Na manhã desta quinta, a defesa Ronnie Lessa afirmou ter sido pega de surpresa com a prisão de Elaine. Ela e outras três pessoas foram presas na Operação Submersus, que investiga o descarte da arma do crime.

“Elaine era testemunha, veio aqui uma única vez. Agora houve essa prisão”, disse o advogado, na Delegacia de Homicídios da capital”.

Operação ‘resgatou’ arma de brinquedo

Cerca de um mês depois de as armas de Ronnie Lessa serem descartadas, a Polícia Civil contou com a ajuda da Marinha para tentar achar o armamento no mar.

As condições de mergulho eram ruins e alguns mergulhadores do Corpo de Bombeiro passaram mal. Um sonar da Marinha localizou uma pistola, mas após a retirada do mar a polícia descobriu que e tratava de uma pistola de brinquedo.

Elaine Lessa, mulher de Ronnie; Bruno Figueiredo, irmão de Elaine; Márcio Montavano, o Márcio Gordo; e Josinaldo Freitas, o Djaca — Foto: Reprodução/TV Globo

Quatro pessoas foram presas no início da manhã desta quinta. O quinto mandado de prisão é contra Ronnie Lessa, que está na Penitenciária Federal de Porto Velho, em Rondônia, com Élcio Queiroz, apontado como o motorista do carro que perseguiu Marielle.

O advogado de Ronnie Lessa e Elaine Lessa, Fernando Santana, afirmou que “está surpreso” com o fato de Elaine ter sido presa.

“Ela era testemunha, veio aqui uma única vez. Agora houve essa prisão”, disse o advogado.

Polícia busca armas que seriam de Ronnie Lessa — Foto: Editoria de Arte G1/Roberta Jaworski

Pescador relatou descarte

A polícia afirma que o descarte do armamento aconteceu dias depois da prisão de Ronnie, em 12 de março, e teria contado com a participação de quatro pessoas, entre elas a mulher e o cunhado do PM reformado.

Em depoimento à Delegacia de Homicídios (DH) da Capital, um pescador contou que um comparsa de Ronnie Lessa contratou seu barco e jogou seis armas no mar perto das Ilhas Tijucas.

Para a polícia, o contratante do barco é Márcio Gordo, e entre as armas estava a submetralhadora HK MP5 usada para matar Marielle e Anderson.

Segundo as investigações, Márcio Gordo teria retirado as armas de dois endereços ligados ao acusado de matar Marielle, alugado o barco e o serviço do dono, o pescador, e jogado tudo no mar.

Polícia Civil busca armas no mar da Barra da Tijuca — Foto: Divulgação

Buscas em alto-mar

No fim de março deste ano, pescadores da Zona Oeste confirmaram ao G1 que a Polícia Civil foi até o local de onde, segundo a denúncia, um barco saiu para fazer o descarte das armas no dia 14 de março, exatamente um ano após a morte da vereadora e seu motorista.

Testemunhas também presenciaram o embarque de caixas de papelão, bolsas e malas no dia do descarte descrito pela denúncia.

De acordo com uma informação que havia sido repassada à polícia, as armas teriam sido tiradas da casa onde Lessa montava os fuzis, no Pechincha, também na Zona Oeste do Rio, dois dias depois da Operação Lume – na qual Ronnie Lessa e o ex-PM Élcio Queiroz foram presos.

Também em março, a Marinha fez buscas na região onde a arma teria sido descartada.

Em julho, a Polícia Civil do RJ pediu ajuda à Marinha para realizar uma nova varredura.

Sonar detectou 9 objetos no fundo do mar perto da Barra da Tijuca — Foto: Reprodução/TV Globo

Um documento obtido com exclusividade pela TV Globo apontou que um sonar da Marinha detectou nove objetos no fundo do mar em um local próximo às Ilhas Tijucas.

A Marinha utilizou sonares para encontrar os objetos. Segundo os equipamentos utilizados, eram alvos com tamanhos aproximados de 50 centímetros a dois metros, e estão numa profundidade de 15 a 30 metros.

Amizade nas redes

Nas redes sociais, Gordo e Djaca aparecem juntos em várias fotos.

Em uma delas, apenas uma tatuagem de Gordo é visível, ao lado de um Djaca agachado e apontando para uma cédula de US$ 100. “Eu duvido qui vc saiba de quem eu ganhei esse presente de aniversário 100 R$ dólares”, escreveu.

Bruno Gordo exibe uma tatuagem de Marlon Brando caracterizado como Don Corleone, do Poderoso Chefão — Foto: Reprodução/Redes sociais

Bruno Gordo posa com uma cobra — Foto: Reprodução/Redes sociais

Bruno Gordo (E) e Djaca, presos na Operação Submersus — Foto: Reprodução/Redes sociais

Djaca e Gordo posam com US$ 100 — Foto: Reprodução/Redes sociais

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